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Foto do escritorZack Magiezi

Madame


Lembro de uma dessas noites no Madame, um clube aqui em São Paulo meio gótico, new wave que eu gosto muito de ir, não sei porque, mas aquele lugar é mágico, fica entre a realidade e o mistério, geralmente vou com os meus amigos ali, bebemos, conversamos, dançamos, celebramos o pouco que resta da nossa liberdade e voltamos para casa de manhã.

É sempre um acontecimento, em algum momento da noite eu abandono o pessoal e vou andar sozinho, meus sentidos estão sempre entorpecidos, mas algo dentro de mim está sempre atento, talvez seja o escritor, ando pelos corredores, esbarrando em corpos alheios, gosto de entrar na sala escura onde várias pessoas dançam freneticamente ao som de alguma música alta. É possível ver os corpos enroscados em um ritmo só é algo muito de ver e sentir e caminho, lembro de uma mulher que me pediu um cigarro no fumódromo, ela perguntou o meu signo, era de movimentos lentos, cara como isso é lindo, ela pegou o cigarro e foi para o lado do namorado, companheiro que estavam ali de óculos escuros e um corte de cabelo inconfundível.

Voltei para os meus amigos que dançavam Depache Mode quase em transe, a pista não a sala escura, estava cheia, eram três e pouco da manhã, as pessoas que estão ali já estão libertas do mundo lá fora, dançam de olhos fechados, aquilo é muito lindo, meu olhar passeia pelo local, nunca fui um desses caras que saem sempre procurando uma ficada de ocasião, acho isso muito chato, tenho alguns amigos assim que parecem não saber viver e deixar a noite trazer o que ela quiser.

Vi de novo o casal, dançavam enroscados como serpentes em um cetro, era algo bonito de se ver, fiquei na dúvida se ela me olhava, pois estava sem meus óculos e completamente entorpecido, ela deslizava pelo corpo dele como música e me olhava, o movimento que faziam pareciam uma dança, mas também pareciam que estavam correndo para um orgasmo, comecei a ficar com muito tesão olhando a cena, eles sumiam e apareciam no meio da multidão, cada vez mais perto, era estranho, era misterioso e perigoso ao mesmo tempo e o que pode ser mais delicioso que isso, estava vibrando querendo o toque, sumiram de novo, apareceram na parede atrás de mim, o cara estava de costas pra mim e ela me olhando quando dava, sorri, mais uma vez eles sumiram e dessa vez foi para sempre.

Cheguei em casa e estava vibrando ainda, arranquei a roupa contemplei meu corpo e o senti vivo, porra como eu queria estar com ela ou apenas continuar tendo aquelas miragens, não sei se isso foi real, mas tirei uma foto minha quando cheguei em casa, camiseta regata e cueca, estava duro, feliz e resolvi dormir assim, conservar esse desejo mais do que qualquer coisa, como uma oferta a uma deusa sem nome que gosta de signos.

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